sexta-feira, 28 de novembro de 2008

Bancos recebem ajuda de US$ 4 trilhões. E o resto do planeta?

Texto de Haider Rizvi

Tradução de Katarina Peixoto



As enormes somas de dinheiro que Estados Unidos e países europeus estão destinando para socorrer os bancos em risco de quebra podem ocasionar conseqüências desastrosas para os esforços que visam a reduzir a pobreza e os efeitos da mudança climática, alertam especialistas. Um informe da organização não-governamental Instituto para Estudos de Políticas, com sede em Washington, destaca que já foram empregados para o auxílio às instituições financeiras mais de quatro trilhões de dólares, um valor quarenta vezes superior ao que se investe para combater a pobreza e a mudança climática.

Os autores do estudo assinalam que os governos dos países ricos provavelmente usarão a desculpa dos custos do resgate dos bancos para não cumprir seus compromissos em matéria de ajuda para o desenvolvimento e ações contra o aquecimento global.

O trabalho foi divulgado na véspera de duas reuniões patrocinadas pela Organização das Nações Unidas (ONU) com o propósito de fazer avançar sua agenda sobre meio ambiente e desenvolvimento. Neste final de semana, em Doha, inicia a conferência de três dias sobre financiamento para o desenvolvimento, enquanto que a cúpula sobre mudança climática começará na próxima semana na cidade polonesa de Poznan, com a presença de mais de 8 mil delegados.

Espera-se que durante os debates, que se estenderão por mais de uma semana, chegue-se a novos compromissos para combater a mudança climática, incluindo a assistência aos países em desenvolvimento para que implementem medidas com esse fim. Funcionários da ONU têm a esperança de que a reunião constitua um “marco no caminho ao êxito” para as negociações lançadas em conferências anteriores.

Ela tem a missão de estabelecer a agenda para as conversações finais sobre o tratado que sucederá o Protocolo de Kyoto que, em 1997, estabeleceu metas de redução de emissões de gases. Essas conversações serão realizadas na Dinamarca, em 2009. No entanto, analistas assinalam que, dada a preocupação dos governos dos Estados Unidos e dos países europeus com a crise econômica, é altamente improvável que se consigam grandes avanços em matéria de financiamento para mitigar a mudança climática.

Independentemente do que façam as nações ricas nesta matéria, destaca o estudo, a crise financeira está golpeando todos os países igualmente. “O aumento da pobreza e do desemprego no mundo em desenvolvimento levarão a uma competição ainda mais brutal que a atual pelo emprego”, disse John Cavanagh, principal autor do estudo.

A mudança climática, acrescentou, põe em perigo o futuro do planeta. Para Cavanagh, as nações ricas “têm a fixação de responder apenas à crise financeira e, especificamente, de sustentar suas próprias instituições financeiras”. Segundo o estudo, os 152,5 bilhões investidos pelos EUA para o resgate de uma só companhia, a AIG, supera longe os 90,7 bilhões de dólares que esse país e os europeus destinaram à ajuda para o desenvolvimento em 2007. No ano passado, Washington destinou à assistência de todas as nações em desenvolvimento US$ 23 bilhões, mas gastou 29 bilhões para salvar o banco Bear Stearns. A soma empregada pelos europeus e pelos EUA para resgatar as instituições financeiras é mais de 300 vezes superior aos 13 bilhões de dólares em novos compromissos assumidos para ajudar os países mais pobres a enfrentar a mudança climática nos próximos anos.

Os investigadores destacaram ainda que o governo suíço destinou 60 bilhões de dólares para socorrer o banco UBS, cinco vezes mais que a soma comprometida pelo conjunto dos governos europeus em 2007 para financiar ações contra a mudança climática nos países pobres. O estudo assinala também que os Estados Unidos não financiam nenhum projeto relacionado à mudança climática no mundo em desenvolvimento e jamais firmou o Protocolo de Kyoto, ainda que seja responsável por um quarto das emissões de gases do planeta, principal causa do aquecimento global segundo os cientistas.

“Esta assimetria nas prioridades atormentará os Estados Unidos e o resto dos países do hemisfério Norte no longo prazo, Eles não só têm a obrigação de solucionar o desastre que provocaram, como também isso é algo que responde a seus interesses”, resumiu Sarah Anderson, co-autora da investigação.


Fonte: Agência Carta Maior

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